domingo, 21 de março de 2010

Curso de roteiro na Fotoativa em abril

Em abril, a Fotoativa inaugura o projeto Audiovisualmente Falando, um conjunto de oficinas básicas do processo audio visual coordenado pelo cineasta Afonso Gallindo.

A primeira oficina do Projeto, que se desenvolverá em quatro aulas, deverá tratar do Roteiro: da concepção ao primeiro tratamento do roteiro.
As práticas incluirão exercícios que passam pela redescoberta dos sentidos, exibição de filme, debates, discussão sobre asestruturas de ficção e documentário, aplicação do trabalho em equipe até a formatação do roteiro em si, análise técnica do material e esboço do esqueleto da produção.

Os interessados já podem procurar a secretaria da Fotoativa. Mais informações sobre a oficina em breve no blog da Associação.

Oficina: Roteiro: da concepção ao primeiro tratamento
Ministrante: Afonso Gallindo.

Dias: 3, 10, 17 e 24 de abril (sábados)
Horário: 16h às 18h
Carga horária: 2 horas/dia
Vagas: 20

Associação Fotoativa - 25 anos
Ponto de Cultura "Olhos de Ver Belém"
Utilidade Pública Estadual e Municipal
Praça Visconde do Rio Branco (Praça das Mercês), 19 - Campina
(entre Gaspar Viana e Sto. Antonio)

Mais informações

(91) 3225-2754
fotoativa@amazon.com.br
a.fotoativa@gmail.com

quinta-feira, 18 de março de 2010

Paris 26 Gigapixels - Panorâmica interativa de Paris

A matéria saiu na BBC Brasil (http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/03/100318_paris_foto_df_vdm.shtml), achei fantástico! Fotografia de 220° por Paris. A riqueza nos detalhes, as brincadeiras com a cidade impressionam e a música... Ahhh la musique! Vale a visita!

quarta-feira, 17 de março de 2010

O fotógrafo pintor - Jan Saudek

Conheci a obra de Jan Saudek em uma palestra do Mariano Klautau, acho que em 2002, 2003. Êxtase visual.




Fotos: Jan Saudek

sexta-feira, 12 de março de 2010

Autores da fotografia paraense nos anos 90

A Fotoativa possui em sua pequena biblioteca, caixas que ao longo dos anos foram arquivados os convites de exposições, mostras (individuais e coletivas), prêmios de fotografias e de artes plásticas, além de uma série de postais e cartazes. Uma parte significativa desse acervo foi constituída pelo esforço individual de Miguel Chikaoka, os endereçamentos das correspondências assim como o destinatário dos convites são feitos em seu nome e tem como local de entrega a Praça Coaracy Nunes. Lá funcionava a primeira sede da Associação Fotoativa. Em torno dessa cena, foi criado o Bar 3x4 sob o comando de Makiko Akao aglutinou jornalistas, atores e atrizes de teatro, professores, produtores de áudio visual.

Fiz um pequeno levantamento, superficial e inconsistente, ordenei cronologicamente duas das caixas. Filtrei apenas os eventos que tinham autores paraenses. O diálogo de fotógrafos com artistas de outras linguagens, como pode ser visto no convite para a exposição “último violento” de 1993, de Ronaldo Vilhena tem a fotografia de Maria Christina. Outro exemplo é também a exposição “De Longe e de perto: Olhares. Objetos e fotografias de Armando Queiroz e de Elza Lima”, realizado em dezembro de 1996.


Nesse minúsculo apanhado, encontrei o convite para duas individuais na mesma galeria. A Theodoro Braga entre os dias 13 e 23 de dezembro de 1994 recebeu as exposições “Estações do olhar“ de Dirceu Maués, fotografias em PB (Hoje, Dirceu tem seu trabalho reconhecido internacionalmente em virtude das suas pesquisas de processo com câmeras artesanais pinhole); no mesmo período, Alberto Bitar expunha “Solitude”, também fotos em preto e branco mas vejo, já nesse trabalho, uma assinatura autoral importante: um diálogo entre o estático e o móvel. Bitar, atualmente desenvolve a série de fotografias em vídeo “Quase todos os dias”, com edições em diversas capitais brasileiras. Seu trabalho consta nas principais coleções de arte do país.



A diversidade fotográfica paraense é uma das maiores marcas da cena local, podemos observar que no espaço de dois anos, entre 1997 e 1998, autores com propostas e entendimentos sobre o que é fotografia, realizaram exposições de caráter muito distintas entre si. Sinval Garcia, com “Samsara” em 1997 e Flávya Mutran com “Palimpsestos”, em abril do mesmo ano (embora expondo no Ceará) fortalecem uma linha investigativa, borram as fronteiras das imagens fotográficas, constroem suas obras, transgredindo a tradição do fotojornalismo e do fotografia documental, enraizada nos anos 80.


Guy Veloso expõe em “Shanti, o caminho das índias”, datada de maio de 1998, o olhar clássico do fotodocumentarismo, enquadramentos, texturas, jogos de luz e sombra. A relação do homem com sua religiosidade é a marca desse projeto. Embora os convites nesse pequeno exemplo sejam de individuais, achei dois documentos que mostram como os laços afetivos e de diálogos compõe a cena local: Cláudia Leão, Paula Sampaio, Maria Christina e Walda Marques assinaram “E deus criou a mulher”, em comemoração ao dia da mulher de 1997. Também coletiva é a participação de Alberto Bitar e Mariano Klautau, na seleção da Funarte para a exposição “espaços urbanos” de 1996.



O registro iconográfico dessas exposições, se existirem, estão com seus autores, catálogos são raros, quando muito tinham um pequeno panfleto ou convite com uma foto ou mesmo apenas o nome da mostra, como é o caso de “Plasma” de Paulo Almeida (1999). Temos um paradoxo na história da fotografia paraense: muitas exposições, muitos autores e quase nenhum memorial. Fica o convite para pesquisadores, antropólogos, teóricos da imagem dialogarem com essa rica trajetória.

Michel Pinho

Exemplos da Fotografia Russa

Николай Драчинский. Вечерний Арбат. 1976

Сергей Васильев. Рождение человека. 1970


Вадим Гиппенрейтер. Извержение вулкана Толбачик. 1975.

terça-feira, 9 de março de 2010

Mictório é vendido por R$ 90,00 em Belém

A obra de Marcel Duchamp foi escolhida como o trabalho de arte mais influente da história. Em 2006 fui selecionado pela Bolsa de Pesquisa do IAP para desenvolver o projeto Murografia, tive acesso a verba para contratar grafiteiros e comprar tintas para experimentar um pouco a fusão entre fotografia, pintura e ready made.

Foto: Michel Pinho - Projeto Murografia - Bolsa IAP 2006

Hoje, fazendo uma busca no meu baú virtual, achei uma foto perdida no meio de outro ensaio. Sorri, acho que o valor da peça é justo.
Foto: Michel Pinho

P.s: Esqueci de dizer, a loja fica ali ao lado do ver-o-peso e aceita todos os cartões.

segunda-feira, 8 de março de 2010

A popularização da fotografia

Tirar a câmera do bolso, estender o braço em sua própria direção, ver a fotografia no visor de LCD e desligar o equipamento. A cena corriqueira e banal de hoje foi incorporada pelo cotidiano dos habitantes das grandes cidades do mundo. Sites de relacionamento como Orkut e Facebook, além do Flickr potencializaram a difusão das imagens digitais no século XXI.

A história da fotografia mostra que essa popularização é mais antiga que imaginamos. Quando os vários processos de fixação de imagem surgiram, os enormes equipamentos e o conhecimento de química e física faziam o trabalho de fotógrafo um ato quase mágico. A mudança significativa desse momento deu-se na segunda metade do século XIX com o processo de produção em massa de rolos de filme para o grande público.

Câmera Kodak de 1888.


George Eastman, 1884 criou a Eastman Dry Plate and Film Company. Em 1892, nasceu a Eastman-Kodak Company. Mais do que entender nomes de fábricas proponho que essa mudança seja entendida como fundamental: para realizar o ato fotográfico, o operador não precisava mais de largo conhecimento técnico. Bastava apertar um botão.


O cartaz de 1901 anunciava que qualquer criança podia operar a câmera.


Cem fotografias. Isso mesmo: cem fotografias. Essa era a quantidade de imagens registradas por um único rolo de filme em 1888. Apertava-se um botão, envia-se para Nova Yorque e o cliente receberia, via correio, os registros na comodidade do seu lar. O barateamento do processo e a popularização dos equipamentos transformaram o modo de ver o mundo e em especial as cidades no início do século XX. Mas isso é outra história...


Jornada fotógrafica no bairro da Campina, evento da Fotoativa - Foto: Valério Silveira


Jornada fotográfica Largo das Mercês, 2008 - Foto Irene Almeida.

sábado, 6 de março de 2010

O dia da fotografia artesanal - Pinhole Day

Último domingo de abril é o dia mundial da fotografia artesanal. Pinhole (furo de agulha) é uma técnica artesanal simples mas poderosa para entender os princípios norteadores da fotografia. Belém do Pará é a cidade que mais produz esse tipo de fotografia no Brasil. Parte dessa conquista deve-se ao trabalho de inúmeros voluntários que se unem a Fotoativa todos os anos. Um trecho dessa história você confere no making of de 2006.




Making do evento comemorativo do dia mundial da fotografia artesanal em 2006, evento produzido em Belém pela Associação Fotoativa.

Direção: Michel Pinho.
Edição: Alberto Bitar.
Edição de som: Leo Bitar
Entrevistas: Michel Pinho
Câmeras: Alberto Bitar - Dirceu Maués - Guy Veloso - Lu Magno - Patricia Costa
Agradecimentos:

Graciete Marques
Miguel Chikaoka
Adriana Harumi
Clarice Funakari
Talita Gomes
Guy Veloso
Octavio Cardoso
Makiko Akao

Patrocínio: Big Ben - Gráfica Alves - Sol Informática.

Apoio: Prolab - Unama - Fox Video - Ná Figueredo - Funtelpa - Governo do Estado do Pará - Curro Velho

O olhar mágico de Eustáquio Neves

Eustáquio Neves. Mineiro e fotógrafo. Não o conheço pessoalmente e vi, se a memória não me pregar uma peça, duas obras suas no MAM em São Paulo em 2006. Conheci seu trabalho através de um programa que era exibido na TV SESC/SENAC produzido em São Paulo. O universo da sua memória particular misturada com a história do seu lugar me encantou.

Fotografia: Eustáquio Neves - Vênus I, 1993.

Fotografia: Eustáquio Neves - Sem Título, 1995


Fotografia: Eustáquio Neves. Sem Título , 1997

sexta-feira, 5 de março de 2010

O Foto Clube Pará

O início da década de 60 no Brasil é marcado por fortes mudanças sociais e econômicas. A nova capital, gestada pelo presidente Juscelino Kubitschek colocou a nação na era do desenvolvimentismo e da indústria. A fotografia publicitária ganhava espaço cada vez maior e os foto clubes brasileiros mantinham fortes laços de correspondências com seus pares estrangeiros.

Foto: Chico Albuquerque. Campanha dos anos 50.

Nas duas décadas anteriores, a fotografia já se libertava da suas amarras pictorialistas, a prisão do retrato do real já havia se quebrado. O diálogo com a pintura de vanguarda era intenso: o abstracionismo, o surrealismo e as experimentações se fizeram muito presentes nos trabalhos de Thomas Farkas e German Lorca, para ficarmos apenas nos mais conhecidos.

Thomas Farkas, Telhas. 1947

German Lorca

A modernização dos correios e o intercâmbio de muitos fotógrafos possibilitaram neste período uma vigorosa troca de informações. Havia um ranking de cada foto clube, o paraense figurou em segundo lugar nacional nos final dos anos 50 e inicio dos 60. “Foi no foto clube que estes fotógrafos encontraram o espaço ideal para o debate que viria a estimular essa nova produção que se desenhava.” (Maneschy , Orlando. O corpo sutil das imagens . In Fotografia Contemporânea Paraense. Panorama 80/90. Belém : SECULT, 2002)

Gratuliano Bibas, João Rendeiro e José Góes se destacaram no foto Clube Pará. Ajudaram na produção de mostras nacionais na cidade como a “Primeira Mostra Fotográfica, de 20 de abril a 2 de maio de 1964; I Salão Paraense de Arte Fotográfica, maio de 1965; e o II Salão Paraense de Arte Fotográfica em setembro de 1966, ambos no Salão Nobre do Teatro da Paz” (Fernandes Júnior¸ Rubens. Militância política e dissonância poética. In Fotografia Contemporânea Paraense. Panorama 80/90. Belém : SECULT, 2002)



Fotos: Gratuliano Bibas


A experiência de manipular negativos, solarizar imagens, fazer um jogo de luz e sombra e a forte presença de geometria são marcas registradas desse período histórico na fotografia brasileira.

Michel Pinho


quarta-feira, 3 de março de 2010

Série Murografia

Após a primeira exposição do espiandomundo que teve o sugestivo e longo título de “Por falta de boas imagens, vão essas mesmas” realizada no Núcleo de Arte da UFPa em 2003, o desafio de cada membro do grupo era trilhar seu caminho autoral. Qual assunto escolher? O que fotografar? Nos deparamos muitas vezes com essas perguntas.


Cartaz da exposião de 2003

O tempo foi solucionando as escolhas de cada um. Caminhos que nem sempre foram os da fotografia, as reuniões foram diminuindo, as postagens ficaram cada vez mais esparsas mas em compensação o fruto dessa caminhada individual começou a aparecer. Era preciso soltar as amarras, não ter medo de contar o cordão fraternal que unia todos.


Saída fotográfica - Foto Kamila Frazão

Em 2004, um projeto da Celpa previa a ação de arte-educação com os grafiteiros da cidade, muros das unidades serviam de cenário para o grafitagem. Pronto tinha achado um ponto, algo que poderia servir de caminho. Investi. Comprei três filmes TRI-X da Kodak, na época o mais barato dos filmes preto e branco. Um escolha feliz, pelo preço e pelo alto contraste, mas esse detalhe técnico só fui descobrir bem depois.

O resultado dessa busca foi o nascimento da série Murografia, feita entre o intervalo das aulas, finais de semana e viagens. Kamila Frazão, Daniel Cruz e eu decidimos inscrever nossos trabalhos no Primeiro Salão de Artes Plásticas do Acre. Para nossa alegria nossas fotos tinham sido selecionadas. Dívidas, parcelamento para emoldurar as fotos, coleta par rachar o sedex... Pronto, a fotografia começava a ficar muito séria na minha vida.

Foto: Michel Pinho - Belém - 2004


Foto: Michel Pinho - Belém - 2004


Foto: Michel Pinho - Belém - 2004

Foto: Michel Pinho - Buenos Aires - 2006

Foto: Michel Pinho - São Paulo - 2006


Foto: Michel Pinho - Belém - 2006

Guy Veloso e a diversidade fotográfica

Recentemente, o Canal Contemporâneo recusou-se a publicar um release da exposição de Guy Veloso, fotógrafo documental e que tinha acabado de receber a notícia que obras suas haviam sido selecionadas pela coleção MASP/Pirelli. Penso que a arte, como a política devem ser o exercício do diálogo e não do sectarismo. Por isso escrevi o texto abaixo.

Pela diversidade fotográfica.

Belém é uma cidade que nasceu da diversidade. Fundada na beira do rio Guamá por portugueses, franceses e pernambucanos construiu sua história em meio a grandes conflitos. Conflitos do homem com a natureza e do homem com o homem. Literalmente, cantada em verso e prosa ao longo dos séculos só começou a ter seus registros imagéticos produzidos com mais intensidade através dos viajantes e naturalistas da metade do XVIII e início do século XIX.

Muitos autores passaram por aqui: Spix, Martius, Henry Bates, entre muitos outros. Costumes, frutas, índios e manifestações urbanas foram desenhados e relatados por esses homens. No entanto, foi com a chegada da fotografia que a Amazônia ganhou cada vez mais destaque nos semanários, livros e estudos na Europa. O exótico encantava. A riqueza da borracha deu contornos europeizados para uma cidade cravada no meio da selva. O álbum de fotografia de Fidanza de 1904 é um exemplo da tentativa de vender uma única imagem: a civilização nos trópicos.


Loja de comércio de animais em Belém. Gravura reproduzida do livro The Amazon and Coast. Herbert Simth. A cópia digital aqui utilizada foi retirada da obra "As origens do Museu Paraense Emílio Goeldi. Aspectos Históricos e Iconográficos de Luis Carlos Bassalo, Vera Burlamarqui e Peter Mann.

Faço essa digressão histórica para chamar a atenção do leitor. Contar uma história, escolher fotos para um álbum, fazer um recorte de um tema é uma escolha. É um discurso, é uma possibilidade de leitura. Assim Guy Veloso nos arrebata. Seu caminho, descortina essa separação dura e imediata datada do século XIX: ciência e fé. Os personagens do fotógrafo vivem no século XX e XXI, vivem em grandes cidades da Índia, Espanha e Rio de Janeiro mas também podem ser encontrados nas pequenas vilas do interior do sertão nordestino, localidades no meio da selva amazônica e mais recentemente em pequenos terreiros de candomblé ketu na grande Belém.



Fotografias: Guy Veloso

Essa tradição documental fotográfica reforçada pelas lentes de Guy Veloso é de suma importância para a desconstrução do discurso do poder instituído. Ao citar o álbum da Belém urbanizada, pergunto: onde está o pajé que atendia atrás da estação ferroviária? Onde estão os negros que cantavam e dançavam o seu lundu na bela praça Batista Campos? As benzedeiras que atendiam no periférico bairro do Guamá saíram em alguma fotografia? A resposta para todas as indagações é direta: as manifestações de fé populares foram silenciadas pelo discurso da imagem.

Nas vésperas de completar seus vinte anos de uma vigorosa carreira, Guy Veloso dá corpo e luz para esse silêncio histórico na Amazônia e no Brasil: catolicismo popular, vale do amanhecer, santo daime, círio de Nazaré e candomblé são parte do seu repertório visual. Ao vê-lo fotografar, presenciei o forte elo entre o sujeito e seu objeto. Reinventando o título de uma das suas exposições: ele vivencia a febre da fé.

Fotografia: Guy Veloso


Fotografia: Guy Veloso

Causa-me certo estranhamento a recusa da publicação do trabalho de Guy Veloso no Canal Contemporâneo. Entendo a necessidade de foco, defendida pelos responsáveis pelo meio mas fico pensando se em pleno século XXI não pretendemos, ainda, silenciar determinados sujeitos... Com a resposta, o caro leitor.

Michel Pinho - Historiador e fotógrafo.