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Fiz um pequeno levantamento, superficial e inconsistente, ordenei cronologicamente duas das caixas. Filtrei apenas os eventos que tinham autores paraenses. O diálogo de fotógrafos com artistas de outras linguagens, como pode ser visto no convite para a exposição “último violento” de 1993, de Ronaldo Vilhena tem a fotografia de Maria Christina. Outro exemplo é também a exposição “De Longe e de perto: Olhares. Objetos e fotografias de Armando Queiroz e de Elza Lima”, realizado em dezembro de 1996.
Nesse minúsculo apanhado, encontrei o convite para duas individuais na mesma galeria. A Theodoro Braga entre os dias 13 e 23 de dezembro de 1994 recebeu as exposições “Estações do olhar“ de Dirceu Maués, fotografias em PB (Hoje, Dirceu tem seu trabalho reconhecido internacionalmente em virtude das suas pesquisas de processo com câmeras artesanais pinhole); no mesmo período, Alberto Bitar expunha “Solitude”, também fotos em preto e branco mas vejo, já nesse trabalho, uma assinatura autoral importante: um diálogo entre o estático e o móvel. Bitar, atualmente desenvolve a série de fotografias em vídeo “Quase todos os dias”, com edições em diversas capitais brasileiras. Seu trabalho consta nas principais coleções de arte do país.
A diversidade fotográfica paraense é uma das maiores marcas da cena local, podemos observar que no espaço de dois anos, entre 1997 e 1998, autores com propostas e entendimentos sobre o que é fotografia, realizaram exposições de caráter muito distintas entre si. Sinval Garcia, com “Samsara” em 1997 e Flávya Mutran com “Palimpsestos”, em abril do mesmo ano (embora expondo no Ceará) fortalecem uma linha investigativa, borram as fronteiras das imagens fotográficas, constroem suas obras, transgredindo a tradição do fotojornalismo e do fotografia documental, enraizada nos anos 80.
Guy Veloso expõe em “Shanti, o caminho das índias”, datada de maio de 1998, o olhar clássico do fotodocumentarismo, enquadramentos, texturas, jogos de luz e sombra. A relação do homem com sua religiosidade é a marca desse projeto. Embora os convites nesse pequeno exemplo sejam de individuais, achei dois documentos que mostram como os laços afetivos e de diálogos compõe a cena local: Cláudia Leão, Paula Sampaio, Maria Christina e Walda Marques assinaram “E deus criou a mulher”, em comemoração ao dia da mulher de 1997. Também coletiva é a participação de Alberto Bitar e Mariano Klautau, na seleção da Funarte para a exposição “espaços urbanos” de 1996.
O registro iconográfico dessas exposições, se existirem, estão com seus autores, catálogos são raros, quando muito tinham um pequeno panfleto ou convite com uma foto ou mesmo apenas o nome da mostra, como é o caso de “Plasma” de Paulo Almeida (1999). Temos um paradoxo na história da fotografia paraense: muitas exposições, muitos autores e quase nenhum memorial. Fica o convite para pesquisadores, antropólogos, teóricos da imagem dialogarem com essa rica trajetória.
Michel Pinho
A história da fotografia mostra que essa popularização é mais antiga que imaginamos. Quando os vários processos de fixação de imagem surgiram, os enormes equipamentos e o conhecimento de química e física faziam o trabalho de fotógrafo um ato quase mágico. A mudança significativa desse momento deu-se na segunda metade do século XIX com o processo de produção em massa de rolos de filme para o grande público.
Câmera Kodak de 1888.
George Eastman, 1884 criou a Eastman Dry Plate and Film Company. Em 1892, nasceu a Eastman-Kodak Company. Mais do que entender nomes de fábricas proponho que essa mudança seja entendida como fundamental: para realizar o ato fotográfico, o operador não precisava mais de largo conhecimento técnico. Bastava apertar um botão.
O cartaz de 1901 anunciava que qualquer criança podia operar a câmera.
Cem fotografias. Isso mesmo: cem fotografias. Essa era a quantidade de imagens registradas por um único rolo de filme em 1888. Apertava-se um botão, envia-se para Nova Yorque e o cliente receberia, via correio, os registros na comodidade do seu lar. O barateamento do processo e a popularização dos equipamentos transformaram o modo de ver o mundo e em especial as cidades no início do século XX. Mas isso é outra história...
Jornada fotógrafica no bairro da Campina, evento da Fotoativa - Foto: Valério Silveira
Jornada fotográfica Largo das Mercês, 2008 - Foto Irene Almeida.
Eustáquio Neves. Mineiro e fotógrafo. Não o conheço pessoalmente e vi, se a memória não me pregar uma peça, duas obras suas no MAM em São Paulo em 2006. Conheci seu trabalho através de um programa que era exibido na TV SESC/SENAC produzido em São Paulo. O universo da sua memória particular misturada com a história do seu lugar me encantou.
Fotografia: Eustáquio Neves - Vênus I, 1993.
Fotografia: Eustáquio Neves - Sem Título, 1995
Fotografia: Eustáquio Neves. Sem Título , 1997
Foto: Chico Albuquerque. Campanha dos anos 50.
Nas duas décadas anteriores, a fotografia já se libertava da suas amarras pictorialistas, a prisão do retrato do real já havia se quebrado. O diálogo com a pintura de vanguarda era intenso: o abstracionismo, o surrealismo e as experimentações se fizeram muito presentes nos trabalhos de Thomas Farkas e German Lorca, para ficarmos apenas nos mais conhecidos.
Thomas Farkas, Telhas. 1947
German Lorca
A modernização dos correios e o intercâmbio de muitos fotógrafos possibilitaram neste período uma vigorosa troca de informações. Havia um ranking de cada foto clube, o paraense figurou em segundo lugar nacional nos final dos anos 50 e inicio dos 60. “Foi no foto clube que estes fotógrafos encontraram o espaço ideal para o debate que viria a estimular essa nova produção que se desenhava.” (Maneschy , Orlando. O corpo sutil das imagens . In Fotografia Contemporânea Paraense. Panorama 80/90. Belém : SECULT, 2002)
Gratuliano Bibas, João Rendeiro e José Góes se destacaram no foto Clube Pará. Ajudaram na produção de mostras nacionais na cidade como a “Primeira Mostra Fotográfica, de 20 de abril a 2 de maio de 1964; I Salão Paraense de Arte Fotográfica, maio de 1965; e o II Salão Paraense de Arte Fotográfica em setembro de 1966, ambos no Salão Nobre do Teatro da Paz” (Fernandes Júnior¸ Rubens. Militância política e dissonância poética. In Fotografia Contemporânea Paraense. Panorama 80/90. Belém : SECULT, 2002)
A experiência de manipular negativos, solarizar imagens, fazer um jogo de luz e sombra e a forte presença de geometria são marcas registradas desse período histórico na fotografia brasileira.
Michel Pinho