sexta-feira, 12 de março de 2010

Autores da fotografia paraense nos anos 90

A Fotoativa possui em sua pequena biblioteca, caixas que ao longo dos anos foram arquivados os convites de exposições, mostras (individuais e coletivas), prêmios de fotografias e de artes plásticas, além de uma série de postais e cartazes. Uma parte significativa desse acervo foi constituída pelo esforço individual de Miguel Chikaoka, os endereçamentos das correspondências assim como o destinatário dos convites são feitos em seu nome e tem como local de entrega a Praça Coaracy Nunes. Lá funcionava a primeira sede da Associação Fotoativa. Em torno dessa cena, foi criado o Bar 3x4 sob o comando de Makiko Akao aglutinou jornalistas, atores e atrizes de teatro, professores, produtores de áudio visual.

Fiz um pequeno levantamento, superficial e inconsistente, ordenei cronologicamente duas das caixas. Filtrei apenas os eventos que tinham autores paraenses. O diálogo de fotógrafos com artistas de outras linguagens, como pode ser visto no convite para a exposição “último violento” de 1993, de Ronaldo Vilhena tem a fotografia de Maria Christina. Outro exemplo é também a exposição “De Longe e de perto: Olhares. Objetos e fotografias de Armando Queiroz e de Elza Lima”, realizado em dezembro de 1996.


Nesse minúsculo apanhado, encontrei o convite para duas individuais na mesma galeria. A Theodoro Braga entre os dias 13 e 23 de dezembro de 1994 recebeu as exposições “Estações do olhar“ de Dirceu Maués, fotografias em PB (Hoje, Dirceu tem seu trabalho reconhecido internacionalmente em virtude das suas pesquisas de processo com câmeras artesanais pinhole); no mesmo período, Alberto Bitar expunha “Solitude”, também fotos em preto e branco mas vejo, já nesse trabalho, uma assinatura autoral importante: um diálogo entre o estático e o móvel. Bitar, atualmente desenvolve a série de fotografias em vídeo “Quase todos os dias”, com edições em diversas capitais brasileiras. Seu trabalho consta nas principais coleções de arte do país.



A diversidade fotográfica paraense é uma das maiores marcas da cena local, podemos observar que no espaço de dois anos, entre 1997 e 1998, autores com propostas e entendimentos sobre o que é fotografia, realizaram exposições de caráter muito distintas entre si. Sinval Garcia, com “Samsara” em 1997 e Flávya Mutran com “Palimpsestos”, em abril do mesmo ano (embora expondo no Ceará) fortalecem uma linha investigativa, borram as fronteiras das imagens fotográficas, constroem suas obras, transgredindo a tradição do fotojornalismo e do fotografia documental, enraizada nos anos 80.


Guy Veloso expõe em “Shanti, o caminho das índias”, datada de maio de 1998, o olhar clássico do fotodocumentarismo, enquadramentos, texturas, jogos de luz e sombra. A relação do homem com sua religiosidade é a marca desse projeto. Embora os convites nesse pequeno exemplo sejam de individuais, achei dois documentos que mostram como os laços afetivos e de diálogos compõe a cena local: Cláudia Leão, Paula Sampaio, Maria Christina e Walda Marques assinaram “E deus criou a mulher”, em comemoração ao dia da mulher de 1997. Também coletiva é a participação de Alberto Bitar e Mariano Klautau, na seleção da Funarte para a exposição “espaços urbanos” de 1996.



O registro iconográfico dessas exposições, se existirem, estão com seus autores, catálogos são raros, quando muito tinham um pequeno panfleto ou convite com uma foto ou mesmo apenas o nome da mostra, como é o caso de “Plasma” de Paulo Almeida (1999). Temos um paradoxo na história da fotografia paraense: muitas exposições, muitos autores e quase nenhum memorial. Fica o convite para pesquisadores, antropólogos, teóricos da imagem dialogarem com essa rica trajetória.

Michel Pinho

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